Os alicerces nas construções coloniais mineiras eram, em sua maioria, executados em pedra irregular, assentada com barro ou argamassa de cal, com a função principal de isolar a edificação da umidade e garantir estabilidade ao terreno. Eram encontrados apenas em edificações de alvenaria de pedra ou tijolos, sendo a argamassa de barro o material mais utilizado, complementado pela chamada “calda” — uma mistura de barro mais rala, empregada para preencher os pequenos vazios entre as pedras.
Em muitos casos, os alicerces eram construídos de forma simples e adaptada à topografia natural, o que conferia às casas coloniais o aspecto característico de se encaixarem no relevo.
Nas edificações com pavimentos elevados em relação ao solo, era comum a presença de embasamentos de alvenaria, cuja função era preencher o espaço entre os alicerces e o piso, permitindo o início da elevação das paredes. Em algumas construções, surgiam ainda os chamados falsos alicerces, que serviam apenas para fechar o vão entre o terreno e o baldrame de madeira, nas estruturas autônomas.
De modo geral, os alicerces das residências coloniais apresentavam profundidade de até um metro e largura aproximada de sessenta centímetros, variando conforme o tipo de solo e o porte da construção.
A taipa de pilão foi uma das técnicas construtivas mais empregadas no período colonial brasileiro, especialmente devido à abundância de barro vermelho, à facilidade de execução e à durabilidade quando devidamente mantida. A técnica era comum na Europa até o século XIX, onde na França recebia o nome de pisé.
O método consistia em compactar camadas de barro misturado com areia, fibras vegetais, crina animal ou estrume, dentro de formas de madeira (os taipais), utilizando o pilão. Essas formas, semelhantes às utilizadas no concreto atual, tinham cerca de 1 metro de altura e 3 a 4 metros de comprimento, com espessura final entre 60 cm e 1 metro. Após a compactação e secagem lenta de 4 a 6 meses, as paredes eram revestidas com argamassa de cal e areia, às vezes acrescida de esterco bovino, para garantir maior resistência à chuva.
Para proteger as paredes, utilizavam-se beirais largos e alicerces de pedra elevados, evitando o contato direto com a umidade. Em alguns casos, adicionava-se óleo de baleia à mistura, o que aumentava significativamente a resistência do material.
Uma variante chamada formigão incorporava pedras pequenas e grandes à massa de barro, conferindo maior robustez. Em Minas Gerais, a taipa de pilão foi aplicada em igrejas antigas, residências e prisões, estas últimas com reforço de madeira nas paredes e pisos quando o uso de pedra e cal não era possível.
As paredes de taipa eram executadas em grande espessura, superiores a 60 centímetros, com os vãos previamente demarcados, dada a dificuldade de abri-los após a secagem. Essa técnica simples, porém eficiente, resultava em estruturas sólidas, muitas vezes comparadas ao concreto moderno em termos de resistência e durabilidade.
A alvenaria de pedra era o material que conferia maior resistência às construções coloniais, sendo amplamente utilizada em fortificações, igrejas monumentais e edifícios oficiais. As pedras mais empregadas variavam conforme a região: calcário, arenito, pedra de rio e granito no Rio de Janeiro, e pedra-sabão e canga em Minas Gerais. A argamassa utilizada era, preferencialmente, uma mistura de cal e areia, garantindo maior resistência; onde a cal era escassa, utilizava-se barro como substituto.
As pedras, geralmente irregulares e sem trabalho de aparelhagem, podiam atingir até 40 cm em sua maior dimensão, sendo calçadas com pedras menores para estabilização. Em alguns casos, empregava-se a alvenaria de pedra seca, sem uso de argamassa, com paredes espessas (0,60 a 1,00 m), assentadas com auxílio de formas de madeira — método mais comum em muros exteriores. Quando as pedras maiores eram contornadas por menores, a técnica recebia o nome de cangicado.
O adobe, também conhecido como tijolo cru era produzido a partir de blocos moldados de barro e palha, secos ao so. O adobe apresentava boa inércia térmica e facilidade de execução, sendo especialmente adequado ao clima e aos recursos locais.
Cada lajota de adobe possuía, em média, 20 x 20 x 40 cm, sendo compactada manualmente em formas de madeira. O processo de secagem ocorria primeiramente à sombra, por alguns dias, e depois ao sol, garantindo maior resistência e durabilidade. A qualidade do barro era fundamental: a proporção entre argila e areia deveria ser equilibrada para evitar que o material se tornasse excessivamente quebradiço ou demasiadamente plástico.
Para aumentar a resistência dos blocos, era comum a adição de fibras vegetais ou estrume de boi à mistura. As lajotas, após secas, eram assentadas com barro, formando paredes espessas que exigiam alicerces bem isolados da umidade. Por fim, essas paredes recebiam revestimento de cal ou argamassa, o que evitava a desagregação do material ao longo do tempo e conferia melhor acabamento à superfície.
As estruturas construtivas eram formadas por peças de madeira ou pilares de alvenaria, sendo as estruturas autônomas em madeira as mais difundidas no período. Esse sistema tem origem nas malocas indígenas, que já utilizavam a madeira como base estrutural, com vedações em pau-a-pique.
Essas estruturas tinham a função de receber a carga das vedações e transmiti-la ao solo, razão pela qual as paredes geralmente eram executadas em pau-a-pique, meio tijolo ou adobe. As madeiras empregadas variavam conforme a disponibilidade de espécies na região, apresentando seções de dimensões diversas — em média, em torno de um palmo, medida tradicional que funcionava como um módulo de referência nas construções da época.
A estrutura consistia na armação de quadros compostos por esteios de seção quadrada, fincados diretamente no solo ou apoiados sobre alicerces de alvenaria. Esses elementos eram amarrados nas quinas, o que conferia estabilidade à edificação e anulava os empuxos do telhado, garantindo a solidez do conjunto estrutural.
Em construções de pilares de alvenaria, a estrutura é muito semelhante. Neste caso os esteios são substituídos por pilares e as madres por arcadas.
Quando a altura da estrutura é considerável, os esteios recebem peças horizontais colocadas entre o frechal e o baldrame, com a função de aliviar as cargas que recaem sobre este último. Essas vigas horizontais são chamadas de madres, denominação que também pode ser usada de forma mais ampla para os baldrames e frechais.
Sob os baldrames, são executados soccos, pequenos embasamentos de alvenaria que atuam como falsos alicerces, servindo principalmente para o fechamento do vão inferior. Em alguns casos, esses soccos também ajudam a reforçar os baldrames de madeira mais sobrecarregados.
Quando há necessidade de maior estabilidade, é comum a introdução de pequenas peças de madeira, conhecidas em Minas Gerais como burros, colocadas entre os baldrames e o solo, funcionando como pequenas escoras.
Além das peças verticais e horizontais, podem ser inseridas peças diagonais nos quadros estruturais, conhecidas como cruz de Santo André ou aspas francesas. Essas peças compõem o chamado frontal tecido, cuja função é melhorar a estabilidade dos panos de vedação de maior área, transmitindo parte das cargas diretamente aos esteios. Dessa forma, o baldrame fica responsável por apenas um quarto do peso total da parede, enquanto o restante é distribuído pelo triângulo inferior formado pelas aspas diagonais.
Os enquadramentos, feitos geralmente de madeira de lei, davam rigidez ao conjunto e serviam de suporte para as aberturas (portas e janelas). Além de função estrutural, possuíam papel estético, destacando os vãos nas fachadas com molduras e vergas decoradas.
COLIN, Sílvio. Técnicas construtivas do período colonial – I. [S.l.]: Academia.edu, 1951. Disponível em: https://www.academia.edu/34159665/T%C3%A9cnicas_construtivas_do_per%C3%ADodo_colonial_I. Acesso em: 20/10/2025.
chrome-extension://efaidnbmnnnibpcajpcglclefindmkaj/https://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/17497/material/aula15%20-%20N2-%20Tecnicas%20construtivas.pdf