A região da Zona da Mata Mineira destaca-se, historicamente, pela forte tradição na produção agropecuária, sua primeira atividade econômica. Registros históricos indicam que, antes da chegada dos colonizadores, as comunidades tradicionais presentes na região pertenciam às etnias Puri e Coroado. No século XVIII, como consequência da exploração aurífera em Minas Gerais, a colonização da região — então denominada “Sertões do Leste” — intensificou-se. Inicialmente, a Zona da Mata funcionava como ponto de passagem e ligação entre as áreas de mineração e o litoral, por onde o ouro era transportado para as metrópoles portuguesas. Posteriormente, consolidou-se como importante fornecedora de alimentos para a região.
Com a decadência da exploração do ouro, a partir da segunda metade do século XVII, muitos antigos mineradores e moradores das regiões mineradoras deslocaram-se para a Zona da Mata, trazendo consigo a mão de obra escrava que utilizavam na mineração. Essa força de trabalho foi fundamental para o desenvolvimento da produção agrícola na nova região. Dessa forma, a Zona da Mata manteve-se como fornecedora de alimentos, não apenas para as áreas de mineração já em declínio, mas também para a cidade do Rio de Janeiro, então sede da colônia. No século XIX, a região passou a se destacar pela produção cafeeira, que se tornaria o principal produto da economia do Império.
A Zona da Mata de Minas Gerais ocupa cerca de 6,09% da superfície do estado e conta com uma população de 2.029.168 habitantes distribuída por 142 municípios, dos quais 70,23% possuem menos de 10.000 habitantes e apresentam baixo índice de urbanização. Atualmente, sua economia representa aproximadamente 8,37% do PIB estadual, concentrando cerca de 11% da população do estado.
ic - Arquitetura vernácula
O Povo Brasileiro: a formação e o sentido do Brasil, de Darcy Ribeiro, é um estudo profundo e abrangente sobre a construção histórica, étnica e cultural do povo brasileiro. Publicado em 1995, o livro representa a síntese das reflexões de uma vida dedicada à antropologia, à educação e à política. Seu objetivo central é compreender como se formou o Brasil enquanto nação e povo. Darcy Ribeiro parte da premissa de que o Brasil não é resultado de um projeto civilizatório homogêneo e planejado, mas sim de um processo histórico de violência, dominação e resistência, envolvendo três principais matrizes étnicas: o europeu colonizador, o indígena nativo e o africano escravizado. A partir da interação entre esses grupos, e das diferentes condições geográficas e econômicas nas quais essa interação ocorreu, formaram-se regiões culturais distintas, cada uma com seus próprios traços sociais, culturais e simbólicos. Darcy esquematiza o país em cinco "Brasis": Sulino, Sertanejo, Crioulo, Caipira e Caboclo.
Seguindo este mapeamento, o estrito de Santa Cruz do Escalvado corresponde ao Brasil Caipira . Segundo o autor, o Brasil Caipira surge como resultado da miscigenação entre colonizadores portugueses e povos indígenas, com influência africana reduzida nesse contexto específico. A cultura caipira formou-se em áreas de ocupação precária e afastadas dos grandes centros coloniais, onde predominavam o isolamento, a economia de subsistência e a adaptação às condições adversas do sertão. Essa realidade favoreceu o surgimento de um modo de vida rústico, marcado pela forte ligação com a terra.
Em sua obra Regiões Culturais do Brasil, Manuel Diégues propõe que o território brasileiro deve ser compreendido não apenas por divisões administrativas ou por critérios naturais, mas a partir dos processos históricos, sociais e econômicos que moldaram diferentes formas de ocupação e uso da terra. Assim, as regiões culturais são formadas a partir da interação entre o meio físico e a ação humana, especialmente no que se refere aos ciclos econômicos, às práticas produtivas, aos fluxos migratórios e às relações entre os grupos étnicos que compõem o povo brasileiro. Cada uma dessas regiões possui identidade própria, desenvolvida ao longo do tempo, com base em suas experiências históricas particulares.
Diégues separa o Brsil em dez : Nordeste Agrário, Mediterrâneo Pastoril, Amazônia, Centro Oeste, Pastoril do Extremo Sul, Colonização Estrangeira, Café, Cacau e Sal. Segundo estas disisões, o distrito em análise classifica-se em Mineração.
A região da mineração consolidou uma identidade própria, marcada por traços como a religiosidade católica, a forte presença do barroco na arquitetura e nas artes, o sincretismo religioso e a valorização da tradição oral. Após o esgotamento das jazidas de ouro, a economia regional passou a se apoiar na agropecuária e na produção agrícola voltada para o abastecimento local, mantendo, contudo, a malha urbana densa e interligada que ainda caracteriza a região mineira. Manuel Correia de Andrade ressalta que a região da mineração ocupa um lugar singular na formação do Brasil, pois se diferencia das demais regiões coloniais tanto no aspecto econômico quanto cultural.
AGUIAR, José Otávio. Quem eram os índios Puri-Coroado da Mata Central de Minas Gerais no início dos oitocentos? Contribuições dos relatos de Eschwege e Freyreiss para uma polêmica (1813-1836). Revista Mosaico, v. 4, n. 2, p. 197-211, jul./dez. 2010. Disponível em : https://seer.pucgoias.edu.br/index.php/mosaico/article/view/2382/1468