O distrito de Nova Soberbo foi inaugurado nos anos 2000 em decorrência do alagamento da antiga São Sebastião do Soberbo para a construção da usina elétrica Risoleta Neves.
O antigo distrito de São Sebastião do Soberbo surgiu como um pequeno povoado formado em torno de uma capela dedicada a São Sebastião, o padroeiro local. O nome “Soberbo” foi inspirado pelo comportamento do rio Doce, que em épocas de cheia “ficava soberbo”.
O distrito de São Sebastião do Soberbo teve sua trajetória foi profundamente vinculada às práticas ribeirinhas. A comunidade desenvolveu-se em torno do Rio Doce, que estruturava não apenas a economia local, mas também os laços culturais, constituindo elemento central da identidade coletiva.
A Igreja de São Sebastião, construída no ponto mais elevado do distrito, permanece como o principal símbolo da fé local, mantendo vivas as tradições e celebrações religiosas que marcam o calendário da comunidade.
A festa do padroeiro, realizada em janeiro, destaca-se como o evento mais importante do calendário católico da região, reunindo fiéis de diversas localidades, como Jerônimo, Viana e Pedra do Escalvado. Durante essa celebração, preservam-se rituais tradicionais, como a procissão da bandeira e as novenas, que reforçam o sentimento de devoção e pertencimento comunitário.
Ao longo do ano, outras festividades religiosas também movimentam a vida da comunidade, como as homenagens a Nossa Senhora, em maio, e a festa de Nossa Senhora Aparecida, em outubro, mantendo viva a religiosidade e a identidade cultural do distrito.
"Quando o rompimento da barragem de Fundão trouxe tempos difíceis, foram os laços antigos entre moradores que trouxeram força e união para apoiá-los a seguir em frente. "
(Caminhos da Mémoria, acesso 2025)
A construção da Usina Hidrelétrica Candonga (depois renomeada Risoleta Neves), empreendimento do consórcio formado pela Vale e pela Alcan, entre 2001 e 2004, provocou profundas transformações em São Sebastião do Soberbo, distrito de Santa Cruz do Escalvado. O enchimento do reservatório levou à inundação de cerca de 286 hectares, atingindo terras produtivas, o leito do rio e seus afluentes, além de provocar o deslocamento compulsório de aproximadamente 280 pessoas (BATISTA, 2013).
"Mais do que um acontecimento físico, a barragem configurou-se como um verdadeiro acontecimento social, marcado pela ruptura com modos de vida tradicionais, com memórias coletivas e vínculos territoriais"
(BATISTA, 2013)
Como resposta ao deslocamento, foi criado o reassentamento de Nova Soberbo, para onde cerca de 120 famílias foram transferidas entre 2003 e 2004. Embora o novo espaço apresentasse uma estrutura física planejada, com casas padronizadas e ruas asfaltadas, os moradores relataram a perda de práticas cotidianas ligadas à agricultura de subsistência e à relação direta com a terra. Nesse sentido, uma moradora sintetizou a frustração ao afirmar que “em asfalto não nasce feijão” (BATISTA, 2013, p. 95), expressão que revela a dificuldade de reprodução dos modos de vida anteriores.
Além das perdas materiais, os impactos foram também subjetivos, afetando sentimentos de pertencimento e identidade cultural. Batista (2013) demonstra que, apesar das tentativas de projetos de reativação econômica, muitos reassentados enfrentaram limitações materiais e emocionais para reconstruir seus meios de vida. Nesse contexto, a comunidade passou a se identificar e a ser reconhecida como “atingida por barragem”, categoria social que envolve não apenas deslocamento físico, mas também a luta pelo reconhecimento de direitos e pela reparação de danos.
Silva, (2018) reforçam esse diagnóstico ao destacar que o deslocamento compulsório destruiu não apenas a infraestrutura material da comunidade, mas também suas referências simbólicas e afetivas, como a igreja, o cemitério, os quintais e os espaços de convivência. O reassentamento, apesar de oferecer condições habitacionais modernas, não conseguiu substituir os vínculos que ligavam os moradores ao território ancestral. Segundo os autores, esse processo produziu uma espécie de “desenraizamento forçado”, em que memórias e tradições foram abruptamente interrompidas e passaram a ser reconstruídas de forma fragmentada em Nova Soberbo (SILVA, 2018).