dos elementos danificados pelo tempo
dos principais atributos contra danos futuros
cuidado concreto e constante
do complexo para adequação ao novo uso
para diferenciação entre as novas estruturas e as remanescentes
para diálogo entre as novas estruturas e as remanescentes
A preservação da Fazenda do Sertão simboliza a valorização das tradições mineiras perpassadas pelo tempo. Muito além da integridade física da propriedade, a paisagem criada pelo complexo da Fazenda traduz os costumes, as atividades cotidianas e as tradições das comunidades mineiras do final do século XIX ao início do XX. Assim como tratado na Declaração de Delhi (2017), a salvaguardada das propriedades rurais é essencial para a preservação da memória e para a compreensão de uma determinada sociedade em um determinado lugar:
"As paisagens rurais são recursos essenciais para o futuro da sociedade humana e do ambiente mundial: fornecem alimento e matérias-primas assim como um sentimento de identidade; representam fatores económicos, espaciais, ambientais, sociais, culturais, espirituais, sanitários, científicos, técnicos e, em certas zonas, de lazer. Além do alimento e das matérias-primas, as paisagens rurais contribuem para a conservação da terra (natureza, ambiente, solo, redes hidrográficas) e para a transmissão das culturas rurais (técnicas, conhecimento do ambiente, tradições culturais, etc.) às gerações futuras. As paisagens rurais oferecem frequentemente vantagens económicas e turísticas específicas, quando estreitamente associadas à comunicação e valorização dos seus valores patrimoniais."
Declaração de Delhi sobre Paisagens Rurais , ICOMOS 2017
Preservar o patrimônio rural ultrapassa o aspecto material da propriedade rural e, também, atinge a ideia do espírito do lugar, como citada pela Declaração de Québec
"O espírito do lugar oferece uma compreensão mais abrangente do caráter vivo e, ao mesmo tempo, permanente de monumentos, sítios e paisagens culturais. Supre uma visão rica, mais dinâmica e abrangente do patrimônio cultural. O espírito do lugar existe, de uma forma ou de outra em praticamente todas as culturas do mundo e é construído por seres humanos em resposta às suas necessidades sociais. As comunidades que habitam o lugar, especialmente quando se trata de sociedades tradicionais, deveriam estar intimamente associadas à proteção de sua memória, vitalidade, continuidade e espiritualidade. "
(Declaração de Quebec sobre a preservação do "Spiritu loci" , ICOMOS 2008)
Assim, para a preservação da Fazenda e seu uso sustentável, serão adotadas diretrizes que visem a continuidade das características fundamentais do bem com seu uso adaptado para o presente. Será priorizada a manutenção frequente do bem no agora, a restauração de elementos faltantes do passado que sejam fundamentais para salvaguarda da sua unidade potencial, e o estabelecimento de diretivas que busquem a conservação de seus principais atributos contra potenciais ameaças e danos futuros.
Para a conservação da Fazenda , a sede apresentará restauração de alguns elementos construtivos da Sede, seguindo determinados princípios de restauração. Como visto na Carta de Veneza
"A restauração é uma operação que deve ter caráter excepcional. Tem por objetivo conservar e revelar os valores estéticos e históricos do monumento e fundamenta-se no respeito ao material original e aos documentos autênticos."
(CARTA DE VENEZA, 1964, Art. 9)
A restauração dos elementos construtivos da casa será realizada de forma pontual, respeitando a unidade potencial do bem. Serão reconstituídas partes faltantes dos elementos danificados internos, como o barroteamento e os pisos em tabuado, esquadrias e portas em folhas de madeira que apresentarem boas condições . Quanto as alvenarias de adobe, propõe-se a reconstituição dos trechos faltantes, recuperando sua estabilidade e preenchimento das trincas. Quando não for possível a recuperação, serão adotadas outras técnicas construtivas que se mostrarem mais eficientes.
“Quando as técnicas tradicionais se revelarem inadequadas, a consolidação do monumento pode ser assegurada com o emprego de todas as técnicas modernas de conservação e construção cuja eficácia tenha sido demonstrada por dados científicos e comprovada pela experiência.”
(CARTA DE VENEZA, 1964, Art. 10).
“Os elementos destinados a substituir as partes faltantes devem integrar-se harmoniosamente ao conjunto, distinguindo-se, todavia, das partes originais a fim de que a restauração não falsifique o documento de arte e de história”
(CARTA DE VENEZA, 1964, Art. 12).
Compreende-se, também
"A escolha entre as técnicas "tradicionais" e as técnicas "inovadoras" deve ser feita caso a caso, dando
preferência às técnicas menos invasivas e mais compatíveis com os valores patrimoniais, tendo em conta
os requisitos de segurança e durabilidade."
(PRINCÍPIOS DE VICTORIA FALLS, ICOMOS 2003).
Preservar o patrimônio rural vai muito além da manutenção e da restauração de seus elementos. Compreende o entendimento de que aquele bem carrega consigo toda uma comunidade ao longo do tempo.
“A preservação do patrimônio rural é essencial para a manutenção da diversidade cultural e biológica, refletindo modos de vida sustentáveis e o conhecimento tradicional das comunidades.”
(DECLARAÇÃO DE DELHI, ICOMOS 2017).
Assim, a preservação, com seu ênfase no futuro do bem, entende que o patrimônio é atemporal, sendo a interação do objeto material com o ambiente em que se encontra, no momento em que se encontra, o fundamento de seu valor.
“A evolução do contexto dos monumentos, sítios e áreas de interesse cultural deve ser gerida de modo a conservar o seu significado cultural e a sua singularidade. Gerir as transformações do contexto dos monumentos, sítios e áreas de interesse cultural não significa, necessariamente, evitar ou criar obstáculos a todas as mudanças”
(DECLARAÇÃO DE XI’AN, ICOMOS 2005).
A manutenção dos elementos constritivos da sede e das futuras estruturas a serem inseridas no conjunto deve ser constante e diária para que o bem seja preservado e a restauração seja utilizada como último recurso.
"A conservação dos monumentos exige, antes de tudo, manutenção permanente”
(CARTA DE VENEZA, 1964, Art. 4)
A conservação do bem não está restrita à reprodução de seu uso original. A requalificação pode ser vista como um processo que enfatiza e valoriza os atributos do bem, ainda que alterando seu uso.
A requalificação da Fazenda pressupõe uma finalidade compatível com seus principais atributos físicos e simbólicos, admitindo intervenções e adaptações necessárias para tal.
Como ilustrado pela Declaração de Delhi (2017),
"O património deve desempenhar um papel significativo no reconhecimento, proteção e promoção das paisagens rurais e da diversidade biocultural devido aos importantes valores que representa. O património pode contribuir para fortalecer e aumentar a adaptação e resiliência das paisagens rurais suportando as populações rurais e urbanas, as comunidades locais, a administração, as indústrias e as empresas como parte integrante da gestão de natureza dinâmica, as ameaças, os riscos, as forças e as potencialidades destas zonas. A conservação da integridade e da autenticidade do património deve ter por objetivo assegurar a qualidade e o nível de vida das populações locais que trabalham e vivem nas paisagens rurais. Como todo o património, o património rural é um recurso económico: a sua utilização deve ser apropriada e deve fornecer um suporte vital à sua durabilidade a longo prazo."
(Declaração de Delhi sobre Paisagens Rurais , ICOMOS 2017)
Assim, a adaptação da Fazenda para um novo uso, neste caso, com viés turístico, pode ocorrer como fomento ao aspecto econômico de seus guardiões, ressaltando sempre a importância de um turismo bem gerido , guardando os elementos que constituem a unidade potencial do bem, mas sempre respeitando suas limitações
"A proteção e a gestão do patrimônio cultural devem estar no centro das políticas e do planejamento do turismo cultural. Um turismo cultural bem gerido permite que as comunidades participem, mantendo seu patrimônio, sua coesão social e suas práticas culturais.(...) . O desenvolvimento turístico, os projetos de infraestrutura e os planos de gestão devem contribuir para preservar a integridade, a autenticidade, as dimensões estéticas, sociais e culturais dos lugares de patrimônio."
(CARTA DE BANGKOK, ICOMOS 2022 (traduzido pela autora))
"A proteção do patrimônio cultural e a resiliência das comunidades anfitriãs exigem um planejamento cuidadoso do turismo e uma gestão dos visitantes. Isso inclui o monitoramento dos impactos sobre os valores naturais e culturais do local, bem como sobre o bem-estar social, econômico e cultural da comunidade anfitriã. Os planos de gestão do patrimônio cultural devem incluir estratégias de sustentabilidade do turismo e gestão dos visitantes. Estas devem integrar uma série de medidas, incluindo a capacidade de carga incluindo indicadores de capacidade de carga, a fim de controlar, concentrar ou dispersar os visitantes, conforme apropriado."
(CARTA DE BANGKOK, ICOMOS 2022 (traduzido pela autora))