A casa foi construída usando a técnica construtiva de abode, muito comum nas construções rurais século XIII e XIX.
"Em nossa arquitetura só são encontrados alicerces propriamente ditos nas construções de alvenaria, sejam de pedra, de adôbos ou adôbes, ou de tijolos, salvo quando empregada a taipa de pilão, sendo os alicerces então, quase sempre, do mesmo material e sem solução de continuidade (...) Usa-se, também, a argamassa de barro ou apenas a calda para encher os pequenos vazios. A calda é um barro muito liquefeito, ralo, e capaz de, entornado por sobre a alvenaria já mais ou menos assentada, por gravidade, preencher seus interstícios. Difere do barro por ser colocada depois de feitos os trechos da alvenaria e não concomitantemente, acontecendo ainda serem o barro e a calda usados simultaneamente numa mesma obra. (VASCONCELLOS, 1959)
"Consistem estes elementos (os adôbos) em paralelepípedos de barro com dimensões em torno de 0,20 x 0,20 x 0,40 m, diferindo dos tijolos apenas por não serem cozidos no forno. São compactados manualmente em formas de madeira e postos a secar na sombra durante certo número de dias e depois ao sol. Deve o barro conter certa percentagem de argila e areia a que se juntam, por vezes, fibras vegetais ou estrume de boi para melhor consistência dos blocos. São os adôbos assentados e emboçados com barro, podendo receber reboco de cal e areia. "
(VASCONCELLOS, 1959)
"Os pisos da parte térrea e do porão normalmente eram em terra batida, misturada com sangue de boi, para obtenção de maior liga, sendo encontrados outros exemplos com pisos de pó de serra de madeira, sustentados sobre barrotes, dispostos ao longo do baldrame. (...) nas salas e dormitórios, os pisos de tábuado corrido eram normalmente usados, suspensos sobre barrotes apoiados no próprio baldrame de barro. (...) As tábuas são simplismente encostadas umas nas outras, sem encaixes. Na cozinha e dependências de serviço , o piso era de terra batida oi ladrilhos de barro, uma vez que estes locais não eram destinados à presença de estranhos"
(NOVAIS, 2009).
Analogamente à descrição de Novais (2009) a sede, originalmente, possuía piso em tabuado de madeira apoiado sob barrotes nas salas e em todos os cômodos e terra batida nas dependências de serviço. Atualmente, em alguns quartos, o piso foi substituído por peças cerâmicas.
"Para o tabuado corrido os barrotes são assentados sobre os baldrames, em rebaixos destes e meia madeira daqueles, com dimensões em torno do palmo e espaçados de 0,30 x 0,50m. Sobre eles são assentadas as tábuas, fixadas a prego. Estas são na maior largura que se possa obter, em média de 0,40m. e com espessura em torno de 0,30m." (VASCONCELLOS, 1959)
"Nos pisos de terra batida deixa-se o piso natural, socando-se apenas a terra de modo a proporcionar uma superfície mais consistente e uniforme. Quando a terra do local não se liga bem, junta-se a ela certa quantidade de argila e água, para então ser feito o apiloamento. É também tradição corrente o uso de sangue de boi nestes pisos para se obter melhor liga. É provável que nas construções mais cuidadas se colocasse por baixo da camada de terra socada uma determinada porção de areia ou pedregulho de modo a obter-se uma drenagem das águas que porventura existissem, evitando-se, assim, sua acumulação. " (VASCONCELLOS,1959)
Assim como citado por Vasconcellos (1959|), a técnica de terra batida foi utilizada nas áreas da casa consideradas menos nobres. As áreas de serviço, o corredor e alguns quartos menores receberam este revestimento e, até hoje, o mantém.
ESQUADRIAS EM FOLHAS DE MADEIRA
As esquadrias - porta e janelas - em tábua de madeira são, em sua grande maioria, as estruturas originais da casa. As janelas e algumas portas são compostas por duas folhas. As demais portas são de abrir em folha única.
"As vergas são retas, em arco abatido ou em arco pleno, dependendo da época da construção. Nos primeiros tempos eram mais simples, com formas retangulares, sem a presença de folhas envidraçadas.(...) As sedes mais antigas apresentam vergas retas nas janelas e portas. A estrutura das janelas e portas aparece sempre faceando a parte externa das paredes."
(NOVAIS, 2009)
FORRO EM TAQUARA
"As esteiras de taquara, trançadas em verdadeira tessitura, caracterizam os tipos geralmente chamados de forros de taquara que, igualmente, apresentam variações na sua trama. O trançado pode ser simples, seguido, ou formar desenhos geométricos com a própria trama. Estes são realçados pelo aproveitamento da face externa brilhante da taquara em combinação com sua face fosca interna ou pela pintura em duas ou mais cores, feita à priori, nas varas a serem trançadas. Os desenhos compõem-se em geral de figuras geométricas – quadrados, retângulos e losangos – em linha quadrada naturalmente, sendo sempre concêntricos, sejam de forma a incluir todo o pano ou em subdivisões deste." (VASCONCELLOS,1959)
Segundo relatos familiares, as salas e os quartos apresentavam forros em taquara. Estima-se que em alguma das intervenções ocorridas nos anos 2000, os forros foram retirados e substituídos por forros em PVC.
Além de sua utilização na arquitetura, o artesanato em taquara é uma grande referência cultural de Santa Cruz do Escalvado, sendo até hoje um produto importante para a economia local. O oficio de taquara é tão relevante para a comunidade de Santa Cruz do Escalvado que está presente no livro "Ilustrando Santa Cruz do Escalvado", disponibilizado pela prefeitura do município, e que apresenta diversos elementos culturais importantes para a comunidade local.
balaústre
O guarda corpo da varanda e o portão são compostos por balaústres recortados em madeira, dispostos em série, formando um painel vazado. Cada peça apresenta recortes simétricos em forma de losangos e ogivas, conferindo leveza e ritmo visual ao conjunto. Esses balaústres se apoiam sobre um revestimento de tábuas, o qual, por sua vez, está sustentado pelo tabuado de madeira. Este tipo de fechamento era comum nas fazendas mineiras, como pode ser visto no exemplar " Fazenda Quebra-Canoas, situado próxima à Fazenda o Sertão.
influências ecléticas
Os elementos vazados com formato triangular estão presentes em alguns cômodos da edificação. Estima-se que estes detalhes são recortes nas alvenarias que permitiam a ventilação e a passagem de luz, uma vez que estão situados sempre no topo das alvenarias, mas também, elementos estéticos de influência oitocentista.
A utilização deste cordão contornando os vãos também tem aspecto decorativo simplificado mas inspirado na arquitetura eclética já existente no século XIX em Portugal que também se faziam presente nas construções mais elaboradas dos núcleos urbanos brasileiros.
CRUZ, Cícero Ferraz. Fazendas do Sul de Minas Gerais: arquitetura rural nos séculos XVIII e XIX. Brasília: IPHAN/Programa Monumenta, 2010. Disponível em : https://bibliotecadigital.iphan.gov.br/items/71935eb3-592b-4905-a98a-8ef064e528e0